Que a palavra quando dita
Seja sentida pelo corpo
Que a intenção de pronúncia -las
Seja a de transmitir um sentimento
Uma experiência
Que haja o perdão quando se reproduz
Palavras vazias de vida e movimento
Que haja gratidão quando a expressão do verbo
Venha do coração
Ressonando
Destranco o discurso
Desentupindo o tráfego
Descarto o corrupto de estante num instante
Palestra proposta de incitar a guerra e a derrota
Pra promover um posto?!
Desenhando a imagem
De um personagem no rosto
A gente paga o imposto
A gente paga o imposto!
Põe a venda da crença
De hastear uma bandeira
E o discurso é o que segue
Correndo na esteira
Na onda do rádio
Na tela da televisão da feira
É só pegar uma banana e ver
Que a gente paga imposto
A gente paga imposto
Roendo esse osso
Engravatado de sapato lustrado
Sentado
Coçando a careca do cinismo
Sina de Narciso
Parece que esse palanque
Só quer
Aumentar a altura do degrau da estante
Pra ver
O povo de cima
Pra ver o povo de cima
Sombreando os cocuruto
Com seu nariz
Evoco uma fala sem nação
Desprovida de razão
No pique eu arrumo meu verso
No bit certeiro da intuição
O pulso impulsiona o sangue
Lavando a infecção
A rima ruma a vida
A rima arruma a minha vida
A rima ruma a vida
A rima arruma a vida
A rima ruma a vida
Que a fala seja sagrada!
Que haja perdão quando se reproduz
Palavras vazias de vida e movimento